Nasci. A vida toda o sentimento
me tocou. Fui sensível. Arrepiei, senti, chorei, angustiei. Sonhei amar um amor
que sempre achei não merecer. Lutei até não merecer de fato. Todos os que me
quiseram dar eu não quis, de todos os que eu quis... não me veio amor.
Na ilusão da criança que habitou
e habita em mim, o amor era puro. O amor era mágico. O amor era o domingo de
manhã. O amor era reunião entre famílias. O amor era olhar apaixonado. O amor
era admiração. O amor era eu casada, bem sucedida e com filhos aos 23 anos. O
amor era único e eterno. Era eu no vestido, ele no cavalo branco. Era doce. Era
leve.
Na ilusão da adolescente,
conflituosa por essência, o amor era dano. O amor era fuga. O amor era
fraqueza. E eu fugi de todas as minhas fraquezas. E eu não quis ser fraqueza de
ninguém. Nunca ousei pedir amor, nunca ousei me sentir merecedora de amor. Mas
sempre fui amor por completo. Fui paixão também, mas a “platonicidade” do amor
me encantava. Eram as famosas borboletas no estômago. Músicas que caiam como
luva para o meu amor. Noites sem dormir. Coração acelerado. Declarei-me uma só vez. E com ela veio toda
aquela frustração. Doeu. E na ânsia de gritar amor, fechei-me em sete chaves.
Cresci sem querer crescer. A
criança pura e a adolescente intensa deram lugar para a adulta conflituosa. E
quantos conflitos. Aquela chuva de informações e padrões me levaram lá embaixo.
Como poderia receber todo aquele amor se tudo me mostrava que eu não o merecia?
Aqui, o príncipe já havia assumido várias formas, confesso que nenhuma
atendendo aos famosos padrões. Os meus amores foram sempre de dentro pra fora,
no olhar, nas palavras, no silêncio. Os meus amores foram sempre escondidos por
mim de mim. Até que veio aquele momento diferente, onde o sentimento se uniu à
escolha. Escolhi aceitar. Escolhi crer. E aos 23, eu ainda era insensatez.
E dentre escolhas e conflitos, o
amor veio. E eu o senti como criança, adolescente e mulher. Eu o senti em todos
os aspectos. Amei o quanto pude, senti-me amada em muitos aspectos. E a vida me
mostrou que todo aquele medo e insegurança que temos ao nos doar, funcionam
parcialmente. Pois uma hora nos entregamos. E uma hora nos machucamos. E dói a
alma. E julgamos não sermos capazes de seguir em frente, até nos preenchermos
de mais amor ou de um novo amor. Mas se vai doer, por que não deixar que doa de
uma vez? Por que não crer que a cada início e reinício as coisas possam ser
diferentes?
Amor, talvez meu erro tenha sido
depositar você no outro, quando na verdade quem eu mais deveria amar estava
ali, em meio a tantos conflitos, querendo um sorriso meu, querendo me ser,
ter-me. Descobri que muito mais do que sentir, você se faz na escolha, no
querer, na luta. E ainda assim... como eu te prezo, amor.